Salve, aventureiros!
Há algumas semanas estive divulgando em grupos e comunidades de RPG a possibilidade de publicar histórias leves e bem-humoradas sobre as experiências dos leitores em suas próprias mesas (uma ideia originalmente plagiada do espetacular blog gringo Table Titans). Para minha felicidade, já recebemos algumas histórias e pretendo publicá-las aqui semanalmente! Quem quiser contribuir com a seção Histórias de Outros Mundos basta enviar seu conto (com título e autoria para referência) para o e-mail de contato do blog, cia.inconsequente@gmail.com.
Segue, abaixo, nosso primeiro conto, Clavículas e Rancores, enviada por Andreli em 19/09/16:
O nosso grupo jogava D&D 3.5 na época que estávamos na escola (lá em 2007), e fazíamos rotação de Mestres. Na época a gente seguia as regras ao pé da letra, então house rules não eram nem um pouco bem-vindas. Tudo estava indo relativamente bem, até o dia em que um dos Mestres decidiu colocar um combate PvP no jogo... e, sendo um bando de moleques jogando, é claro que não deu certo.
Um dos jogadores, um Monge Humano, decidiu que estava treinando para o combate ao socar árvores, como se fosse um ninja. Seu adversário, um Ranger Elfo (especializado em arquearia) se rendeu à tendência Caótica e não quis esperar o Mestre anunciar o confronto oficial, e atirou uma flecha de seu Arco Longo Composto +2 no Monge.
É claro que foi um acerto crítico.
Como se o jogador do Monge já não estivesse revoltado o suficiente por ter sido atacado de surpresa, nessa hora o mestre decidiu adicionar um pouco de realismo e, em vez de só distribuir o dano, afirmou que uma clavícula do Monge fora partida em duas pela flecha e que ele estava com um braço inteiro inutilizado. Como não usávamos house rules (e, na verdade, estávamos mais preocupados com decapitar orcs do que com interpretar personagens), começou uma enorme discussão entre os dois Jogadores e o Mestre que só terminou quando o jogador do Ranger caçoou tanto do Monge que o seu jogador saiu da sala de tão nervoso.
Mas a história não ficou por aí: era uma mesa de Mestres rotativos, lembram-se?
Quando chegou a vez do jogador do Monge mestrar, seu rancor aflorou. Se o Ranger era acertado em combate? Clavícula quebrada. Falhou no teste de Escalar? Caiu 12 metros e quebrou a clavícula. A negociação com os NPCs deu errado? Foi socado no peito e quebrou a clavícula. A situação começou a ficar realmente ridícula quando, no meio de uma tempestade, um relâmpago atingiu o Ranger "aleatoriamente" e a sua clavícula se rompeu dado "à corrente elétrica".
A lição que ficou foi: nunca, nunca sacaneie um jogador quando os Mestres são trocados constantemente.