segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Capítulo 5 - Carne, Cerveja e Memórias

Fonte: en.wikipedia.org

   Sven pisoteou o chão de pedras calçadas com raiva enquanto saía da Fortaleza de Sidar. Estava nervoso: com Drake, por sua servilidade, com Aleena, por sua apatia, com o maldito Duque, com sua ingratidão. Sven estava nervoso com os homens.
   Resmungando para si mesmo, Sven não percebeu enquanto ia de encontro com um outro anão que vinha entrando na Fortaleza.
   - Opa! Calma, irmão! - disse o anão moreno na língua de seu povo, segurando-o pelos ombros. Ele então arregalou os olhos e deixou o queixo cair - Pelas bolas peludas de Moradin, é você, Sven?
   Sven encarou o recém-chegado e, sem que pudesse evitar, um sorriso se espalhou em seu rosto.
   - Thudar? É você, sua bunda de bode?
   Os amigos se abraçaram efusivamente, rindo. Dûr Thudar tinha sido um acólito alguns anos mais velho que Sven, quando este treinara para ser um clérigo de Moradin; Thudar se graduara mais cedo que ele, se tornando um paladino do deus anão.
   - Como você está diferente! - disse o paladino. Portava uma armadura pesada completa, ao estilo anão; os membros de sua ordem quase nunca andavam sem o traje de guerra. Um pesado martelo-de-guerra pendia de seu cinto. - Está magro! E careca! E te faltam dois dentes, está ainda mais feio que antes, se é que é possível.
   - E você não mudou nada, seu tratante! Achei que estaria em alguma santa cruzada, lutando pelo Forjador de Almas, mas está em uma cidade humana se empanturrando de carne e cerveja, não é?
   Pela primeira vez, Thudar pareceu um pouco sem jeito. Coçou a barba negra trançada.
   - Aconteceram muitas coisas, Sven... tenho tanto a lhe contar.
   - E eu, meu amigo. Venha! Preciso tomar algo forte. Existe algum templo ao Pai nesse rochedo sujo de merda de gaivota?

   - Existe um pequeno altar, sim, - disse o paladino, sem graça - mas não posso acompanhá-lo, não agora. Perdoe-me, Sven, tenho alguns assuntos a resolver com o Duque.
   - Você conhece esse... esse... esse monte de cascalho? - disse Sven, apontando por cima do ombro com o polegar.
   - Vamos, ele não é tão ruim assim. É justo, ou tão justo quanto os homens conseguem ser. Agora, Sven - disse, levantando um dedo - enquanto estiver aqui em Morhstarr, exijo que seja meu hóspede. Me encontre em minha casa hoje, antes do pôr-do-sol. É a casa branca grande na Alameda dos Juízes, no Distrito Baixo. Fácil de achar. Aí podemos deixar a conversa em dia! Que me diz, hã?
   Foi a vez de Sven ficar sem jeito.
   - Seria um prazer, irmão, mas eu... viajo em companhia de mais cinco... digo, seis - lembrou-se de Oc.
   - Traga todos. Faço questão! Amigos de Sven serão bem-vindos sob meu teto, e não nos falta espaço. Antes do pôr-do-sol!
   - Estarei lá, irmão!
   Ambos se despediram, sorrindo. Alguns instantes depois, Aleena e Drake chegaram (ambos com um humor sombrio) e os três trocaram as novidades.
   - Um amigo? É de confiança? - perguntou Drake, sombrio.
   - Por mim, tanto melhor. Economizaremos um tanto de prata - disse Aleena, dando os ombros.
   O sol ia alto no céu quando o trio chegou novamente ao Porto da Prata. O vento soprava frio, causando arrepios nos membros da Companhia, e soprando a maresia pela Baía da Prata. Chegaram ao dracar da companhia, apenas para achá-lo vazio (com exceção do bizarro bogun de Tom). Decidindo aguardar a volta dos companheiros, onde quer que tinham ido, o grupo começou a organizar todo o carregamento do barco para levá-lo à casa de Dûr Thudar mais tarde. Em meio ao movimento e à barulheira do porto, empacotaram suprimentos, armaduras, armas e mochilas, e prepararam caixas e barris para serem descarregados. Fizeram uma pequena pausa para comer n'O Leviatã, e, ao retornarem ao barco, deram com Tom, Darsh e Oc, que vinham andando pelo cais.
   O grupo conversou por alguns minutos. Sven, Aleena e Drake contaram de seu encontro com o Duque e do convite para ficar na casa de Thudar. Darsh revelou que se ocupara de procurar um lugar pra ficarem, também, e tinha descoberto uma opção barata no Templo à Beira-Mar, dedicado ao deus dos viajantes e marinheiros, Fharlanghn ("Desperdício de tempo, ao que parece" reclamou o feiticeiro). Thomas, por sua vez, rodara o Distrito da Prata à procura da moça loura que roubara o chapéu de Octavius. Sven e Drake se interessaram pelo assunto.
   - Ninguém sabe quem é a maldita! Metade das pessoas nunca ouviu falar e a outra metade me recomendou procurar nos prostíbulos.
   - Depois nos encarregaremos de procurar essa malfeitora, Tom - disse Sven, pensativo - Mas o que há com você? Todo... limpo, e com roupas novas...
   Tom sorriu.
   - Ah... depois de trinta anos rastejando de lado e comendo lodo, achei que era uma boa hora pra me dar um trato.
   O grupo então contratou quatro carregadores musculosos das docas para levar seus equipamentos para a casa de Thudar na Alameda dos Juízes. Todos o itens foram devidamente carregados, com a exceção de um: a esquife de madeira que repousava no fundo do barco, encerrando o corpo preservado do monge Lucran. Sven recusava-se terminantemente a deixar que outra pessoa a não serem eles manipulasse o invólucro.
   - De forma alguma. - disse ele - Não vou deixar um marinheiro qualquer levar nosso companheiro, balançando-o por aí e quicando nas pedras.
   - Vai ser um inferno subir essas ruas lotadas carregando isso - respondeu Drake - É melhor alugarmos uma carroça, então, ou deixarmos ele repousando no barco.
   - Nunca! Não deixarei que uma mula carregue nosso companheiro como um saco de farinha. E tampouco o abandonarei no barco. Darsh, certifique-se de pagar a taxa para deixarmos o barco aqui mais alguns dias. Você  - apontou para Drake - e o resto, me ajudem com esse esquife.
   Resmungando, Drake, Aleena, Tom e Octavius ajudaram Svena  a carregar o caixão pelas ruas. Eles se revezavam de três em três: além do peso da madeira e do corpo, os tesouros e pertences do póstumo Lucran faziam com que mesmo a forte Aleena suasse ao levantar o peso.
   As ruas de Morhstarr eram estreitas e pavimentadas com pedras quadradas, criando uma concavidade em seu centro que permitia o escoamento de dejetos e água. As casas eram também estreitas, mas altas, e quase sempre possuíam três ou quatro andares, muitas vezes se conectando por cima das vias por passarelas. Passaram pelo maior mercado da cidade, o Mercado do Peixe, uma praça ampla e quadrada onde pescadores e comerciantes vendiam de tudo - desde peixes frescos até tecidos e iguarias importadas do leste distante - enquanto artistas de rua e bardos miseráveis entretinham o povo. Passaram pelas avenidas principais do Distrito da Prata, e então se encaminharam para Oeste, entrando no Distrito Baixo - a maior área residencial da cidade. Nesse ponto, o esforço de carregar Lucran foi gigante, pois as ruas nessa parte da cidade eram íngremes e escalavam os rochedos que davam para a parte ocidental da baía.
   Depois de procurar um tanto, encontraram a Alameda dos Juízes - uma bela rua, no topo de uma colina, cercada de pinheiros e roseiras dos dois lados, com casas espaçosas e bem decoradas. Sven identificou uma das maiores casas da rua, de paredes brancas e vitrais transparentes; ao chegar na porta, observou, pregado na parede, um símbolo de pedra representando um martelo e uma bigorna encimados por uma língua de fogo. Era o símbolo de Moradin.
   - É aqui. Comportem-se, a relação entre hóspede e anfitrião é sagrada para meu povo.
   - Tanto faz... abra logo... meus braços... vão cair... - arquejou Drake, que segurava uma das pontas do ataúde no momento.

Fonte: www.japanesehouse.org
    Sven bateu na porta de madeira três vezes com o punho fechado. Após algum tempo, a porta se abriu, revelando o rosto sorridente de Dûr Thudar.
   - Irmão! Não teve problemas em encontrar o lugar, eu espero?
   - Nenhum, nenhum. Veja aqui, Thudar: estes são meus companheiros, membros da Companhia Inconsequente. Aleena, Darsh, Drake, Thomas e Octavius - cada um acenou com a cabeça quando foi chamado.
    - É um prazer receber os amigos de Sven! Entrem, por favor!
   Thudar vestia um robe confortável e estava descalço. Curiosamente, solicitou que todos descalçassem os sapatos antes de entrar na casa, e eles obedeceram. Thudar guiou os carregadores portuários a depositar sua carga no segundo andar, e então recebeu seus hóspedes. A casa era espaçosa, possuindo uma antessala com poltronas confortáveis logo na entrada e uma sala de jantar em sequência. Sentaram-se à mesa enquanto Thudar serviu-os com infindáveis delícias: tortas de caramelo, pães-de-mel, biscoitos assados cobertos de sal marinho, pães e broas quentes do forno, peixe assado, caldo de cebola e gordas linguiças pingando gordura; isso tudo, é claro, regado a quantidades prodigiosas de cerveja e hidromel.
   Thudar e Sven riam alto enquanto se lembravam do tempo de estudantes no templo. O grupo não demorou a perceber que Sven não tinha sido exatamente o modelo de acólito, sendo um verdadeiro boêmio e terror entre as noviças. O sol se pôs e Thudar acendeu velas pela casa, no mesmo tempo em que apareceu com um leitão assado inteiro, lambuzado de mel, e um barril de legítima cerveja anã. Com exceção de Darsh, o meio-orc, os outros não achavam que era possível acompanhar o ritmo com que os anões bebiam e comiam. Sven pôs-se, então, a contar suas aventuras desde que chegara à corte do Jarl Ranulf, o Jovem, e começara a se aventurar com os membros daquilo que seria um dia a Companhia.
   - Então - riu Sven, a cara corada pela bebida - o monge pulou como um gafanhoto por cima de todo o destacamento - não ria, estou falando sério - e caiu dando um chute bem dado na cara de um soldado imperial. Quebrou o nariz dele, e a cabeça também, não duvido. Mas então, covardes como só eles, os imperiais recuaram e cercaram ele, e o maldito comandante colocou uma espada em seu pescoço, e nos disse que o mataria se não nos rendêssemos.
   - E aí?
   - Bom, aí que eu sabia que estava tudo perdido. Não queria ver o pobre Lucran morto, mas não queria morrer numa mesa de tortura pelo... pelari... pelariana - decidiu-se Sven - e já ia pegando meu martelo quando ZÁS! Uma flecha negra perfurou o olho esquerdo do comandante, se enterrou até as penas, e o homem caiu morto. Os soldados pareciam baratas, nós esmagamos eles em menos de um minuto!
   - Mas... como é possível? Quem atirou a flecha?
   - Este filho de uma cabra - Sven envolveu Drake num abraço difícil, dado a diferença de alturas - tinha se escondido nos arbustos antes da luta. Não vale nada no alcance do braço, mas é o diabo com o arco nas mãos - desculpe pelo trocadilho, Drake - e, nesse momento, deu o tiro mais preciso de sua vida.
   - Parabéns, garmuni - disse Thudar - deve ter requerido colhões. Se errasse o tiro, ou não o matasse de primeira, o monge teria morrido ali mesmo.
   - De nada adiantou, então - disse Drake, sombrio - Pois ele morreu semanas depois. Um legionário partiu ele ao meio.
   Um silêncio incômodo se abateu sobre a mesa. Darsh falou, em voz alta:
   - Esse é o nosso Drake, o animador de banquetes! Conte-nos, senhor Thudar. Como conseguiu essa casa aqui?
   - Ah, essa é uma boa história. Essa casa não é minha, sabem. Pelo menos, não só minha.
   - Não?! - perguntaram todos, alarmados.
   - Ah, acalmem-se, vocês todos. Ouçam.
   Acontece que Thudar tinha saído da Ilha dos Deuses com o mesmo objetivo de Sven: buscar um meio de recuperar o reino de Kharkashin Kash, invadido e dominado por um mago morto-vivo. Recebera muitas desculpas e negativas dos jarls do norte, e então tentara a sorte com os duques garmuni. O único que não o dispensara de imediato fora Daven, que prometera estudar a situação, contanto que Thudar prestasse serviços em troca... e ele o fizera. Daven o encarregara de cuidar de uma velha aliada sua que morava ali naquela casa, sustentada pelo Duque. Thudar fazia compras para ela, obedecia à seus pedidos, era responsável por sua segurança...
   - Espera aí - disse Sven, ainda muito veremelho - você é a babá de uma velhota humana? O que pensa que está fazendo, Thudar?
   Diante disso, Thudar se levantou. Pela primeira vez desde que o conheceram, o anão parecia nervoso.
   - Não fale assim, Sven. Você não a conhece. Xhu Sie é uma pessoa como nenhuma outra, e você come à sua mesa nesse momento. Deve respeitá-la, e... senhora, perdão, a acordamos?
   Todos se viraram para ver com quem Thudar falava. Parada em frente à mesa estava uma figura estranha: com um porte delicado, uma mulher já com certa idade estava parada como uma estátua, apoiando as duas mãos numa fina bengala de madeira. Usava um estranho robe de seda, delicado, que lhe cobria o corpo todo e tinha mangas muito largas; o mais estranho, no entanto, a máscara que usava. Oval, branca como a neve, cobria o rosto todo e não possuía nenhuma característica marcante a não ser as duas fendas estreitas para os olhos. O cabelo ralo e grisalho estava amarrado num coque apertado.
   - Não. - respondeu Xhu Sie - Estava acordada, meditando. Então senti fome e decidi descer.
   - Peço licença - disse Sven, se levantando - E agradeço por nos receber em sua casa, senhora.
   Darsh seguiu o exemplo.
   - Senhora, perdoe-nos o barulho e o incômodo.
   - Não é para se preocupar. - a velha tinha uma voz contida e falava num sotaque muito exótico, claramente uma estrangeira de muito longe - Uma casa vazia é como uma flor de outono.
   Todos ficaram um tempo esperando ela explicar a comparação, mas ela simplesmente andou até uma cadeira vazia e se sentou, em silêncio. A conversa foi retornando lentamente, mais tímida que antes. Thudar cutucou Sven e disse:
   - Vamos, estou com vontade de fumar. E quero te mostrar uma coisa.
   Os dois anões saíram da casa pelos fundos. Havia um grande terreno murado do lado de fora, decorado de forma singela por um amplo jardim com lanternas cerimoniais de pedra e até um pequeno laguinho com patos. Macieiras cresciam robustas, pesadas de tantos frutos. Thudar acendeu o cachimbo e pôs-se a fumar, enquanto levava Sven para um canto do jardim, seguindo a parede da casa. Chegaram por fim a uma pequena área coberta, rebaixada, que continha uma pequena forja, muito humilde. Ferramentas de ferreiro estavam espalhadas para todo lado, e algumas peças inacabadas repousavam sob a bigorna. O símbolo de Moradin estava repetido em uma das paredes, dessa vez esculpido na pedra do muro.
   Sven impressionou-se coma  construção. As forjas eram os locais mais sagrados para os fieis do deus anão.
   - Foi você que construiu?
   Thudar assentiu. Tragando de seu cachimbo, disse:
   - Gostaria que você prestasse o Rito das Chamas Novas nela. O que acha?
   Sven encarou o amigo. O Rito das Chamas Novas era feito pelos sacerdotes de Moradin para abençoar novas fornalhas e forjas, de forma a garantir o favor do deus para os trabalhos ali realizados. Nada daria mais prazer a Sven do que realizar o Rito, mas, havia um problema...
   - Sinto muito, irmão... mas... - Sven levou o punho fechado ao pescoço, onde antes ficara seu símbolo sagrado - ...não tenho meu thukadin. Meu amuleto.
   - O que aconteceu? Você foi roubado, ou algo do tipo?
   - Não... eu o presenteei para um amigo. Um grande amigo - Sven lembrou-se, melancolicamente, do elfo bardo que os deixara para guerrear ao lado de seu povo.
   Thudar ficou um tempo calado, e então retirou-se. Desceu uma pequena escadaria e abriu uma porta que levava ao subsolo da casa. Sven ficou sozinho no escuro, sofrendo em silêncio. Era um grande desaforo à sua fé estar sem um thukadin, um símbolo sagrado dedicado ao seu deus. Não se arrependia de tê-lo dado ao amigo, mas temia o julgamento de Thudar.
   Por fim, o paladino retornou.
   - Lembra-se de Thondar, meu primo? Ele era responsável por ensinar os acólitos na arte da forja, lá na Ilha.
   - Lembro-me - Thondar era um ferreiro excepcional, mas Sven detestara o anão com todas as forças enquanto era estudante. Era velho e rabugento, e Sven o culpava por nunca ter aprendido a forjar armas propriamente.
   - Ele esteve aqui, comigo, nos seus últimos meses de vida. Estava velho e muito cansado. No entanto, ele deixou algo comigo antes de morrer; disse para passá-lo adiante para quem merecesse. E aqui está, seu grande palerma. Tente não dar esse aqui pra qualquer um como se fosse um pacote de doces.
   Thudar estava com um sorriso largo e, em suas mãos, carregava um thukadin. Em vez de corda, era construído com uma corrente de aço, e o símbolo da bigorna e martelo eram esculpidos com impressionante realismo na pedra negra. Ao segurá-lo, Sven sentiu uma onda de energia poderosa tomando conta de seu corpo, restaurando suas forças, tornando-o mais forte. Era a magia da forja dos anões, incrustada no objeto.
   Sven colocou o thukadin no pescoço, sentindo suas propriedades agirem sobre ele com força total. Sorrindo com todos os dentes que lhe restavam, abraçou o amigo.
   Na sala de jantar, os companheiros já se levantavam para dormir, cansados do dia de andanças. Um a um, ajudaram a limpar a louça e os copos sujos e guardaram os restos de comida na despensa, e começaram a subir a escadaria para o segundo andar, onde seriam alojados nos quartos destinados aos visitantes. Quando Aleena fez menção de se retirar, no entanto, Xhu Sie falou novamente:
   - Espere, por favor.
   Aleena se virou. A senhora estava sentada à mesa, a expressão impenetrável por trás da máscara.
   - Sente-se, por favor.
   Suspirando, a humana sentou-se a mesa. Estava cansada, estufada e um pouco embriagada, mas não queria ser rude com a dona da casa.
   - Gostaria de fazer uma pergunta. Me perdoe pela indiscrição.
   - Sem problemas - Aleena deu os ombros, bocejando.
   - Você é a filha de Aryana Lança-Longa?
   Aleena arregalou os olhos. De todas as coisas que esperava ouvir da velha estrangeira, aquela certamente não figurava na lista. Um turbilhão de memórias inundou sua mente, enquanto ela respondia:
   - S... Sim.
   - Imaginei que fosse. A semelhança física e espiritual é inconfundível - começou a retirar a máscara, lentamente. Repousou o objeto na mesa e encarou Aleena.
   Seu rosto era típico dos comerciantes do Leste distante: nariz pequeno e arrebitado, olhos escuros, amendoados e estreitos, tez alva. A pele era muito enrugada, denotando a idade, mas sua expressão era férrea. O que mais chamava atenção, no entanto eram as marcas. Seu rosto era uma verdadeira ruína, com centenas de pequenas manchas e cicatrizes, típicas de uma queimadura violenta. Aleena ofegou.
   - Eu estive presente no dia em que sua mãe morreu. Quer ouvir minha história?
   Ainda em choque, Aleena confirmou com a cabeça. Inspirando fundo, Xhu Sie começou a falar.

Sombras do passado se abatem sobre a Companhia... quem será Xhu Sie e qual sua relação com Aryana, a mãe de Aleena?
Fiquem ligados!
O Mestre

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