sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Drake Olhos-de-Corvo

E eis que temos mais uma espetacular arte da Viksen, dessa vez pra ilustrar nosso ladino sombrio e perturbado pelos fantasmas de seu passado: Drake Krowsey!


Trabalho, como sempre, impecável e conceitualmente impressionante. Nada dá mais orgulho a um Mestre do que ver seus personagens ganharem vida!

O Mestre

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Histórias de Outros Mundos 5: De Explodir a Cabeça

Enviado por o Mestre (sim, eu mesmo)!

   Acho que podemos dividir os jogadores de D&D em dois grandes grupos: os que otimizam seus personagens a todo custo, buscando combos absurdos e invencíveis... e aqueles que odeiam essas pessoas.
   Em 2006, eu vários amigos de escola nos juntamos para jogar um "campeonato de D&D". Esse evento era uma arena de combate em que os personagens se enfrentavam um contra um. É claro que, nesse cenário, qualquer um que fosse expert em otimização seria o campeão incontestável. E assim, conheçam Maximus, o Guerreiro.
   Maximus era um monstro. Completamente talhado para ser uma máquina de combate invencível e coberto de itens mágicos escolhidos especialmente pra destruir cada um de nós, não demorou muito para ele se tornar o favorito das multidões (dentro do jogo) e completamente odiado pela mesa. Maximus humilhou um Mago no seu primeiro combate, refletindo magias contra seu conjurador; no segundo round, decapitou um Ladino na terceira rodada de combate. Ele era invencível.
  Eu, por outro lado, fiz o melhor que pude com meu Druida Meio-Elfo. Quase levei a pior contra um Ranger na minha primeira luta, e alguns críticos necessários me garantiram uma vitória suada contra um outro Ladino na segunda. O problema foi no terceiro round, quando eu deveria enfrentar o temido Maximus.
   Mesmo os oponentes que tinham perdido pra mim torciam contra Maximus, mas de nada adiantou. Meu javali de estimação virou churrasco nas primeiras rodadas, me deixando irado, mas um único round de confronto corpo-a-corpo foi o suficiente para apontar a iminente derrota. Lutando contra o desânimo da mesa, eu tive uma única ideia interessante...
   Conversando em particular com o Mestre, bolei a minha estratégia maluca. Ele arregalou os olhos, me perguntando se eu entendia as consequências do ato, e quando confirmei, ele sorriu malignamente.
   O que Maximus viu foi meu Druida brilhando momentaneamente e desaparecendo de sua frente. Sorrindo, ele se gabou de seus talentos de combater às cegas (foi assim que ele lidara com o Ladino invisível anteriormente), e tentou atacar o Druida; o Mestre pediu a ele um teste de Sabedoria, e ele aparentemente falhou, pois sua espada larga atravessou o ar sem encostar em nada..
   Era meu turno novamente, e eu, em alto e bom som, anunciei que assumiria a forma de um hipopótamo. O Guerreiro começou a sorrir; sabendo que teria um alvo bem grande para fatiar, mas o sorriso morreu quando o Mestre pediu a ele um teste de Reflexos. Com um mísero 3, o narrador anuncia que tudo que ele vê é uma explosão de luz vermelha antes de cair morto no chão.
   Eu explico: invés de me tornar invisível, eu tinha me transformado numa diminuta pulga e pulado dentro do ouvido do Guerreiro (que falhara no teste de Sabedoria para me perceber). Entrando fundo no canal auditivo, quando me transformei num grande paquiderme, a expansão corporal explodira a cabeça dele de dentro pra fora, matando-o instantaneamente. É claro que isso me afetara também, quebrando cada ossinho do meu corpo e me matando ao mesmo tempo. Mas, para a mesa, eu fui o verdadeiro vencedor daquele combate!

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Thomas, artes, cerveja!

Saudações, aventureiros!

   Hoje venho dar algumas notícias espetaculares! Como vocês devem saber, quando uma mesa de RPG dura muito tempo, os jogadores começam a se apegar à história de uma forma especial. Isso costuma render frutos paralelos ao próprio jogo - e foi assim que nasceu esse blog, por exemplo!

  No entanto, graças à iniciativa do nosso confiável xamã Thomas de Bernargrie, a Companhia Inconsequente está prestes a emprestar seu nome a uma nova franquia. O jogador por trás de Thomas é, na vida real, um mestre cervejeiro legítimo! Buscando oficializar seu empreendimento, este jovem rapaz está abrindo uma cervejaria com fórmulas inspiradas na nossa querida Companhia. Cada membro terá sua própria cerveja, com detalhes e sabores condizentes com sua personalidade. Um projeto titânico, de fato! E, enquanto os trâmites legais são feitos, nós podemos distrair a falta de cerveja com essa arte simplesmente espetacular encomendada para o primeiro rótulo da série - é claro, o próprio Thomas! Confiram!


   A arte comissionada foi feita pelo Bragato Ilustra, e o trabalho ficou impecável. Nada me dá mais orgulho enquanto Mestre do que ver esse tipo de fruto da nossa imaginação ganhando vida!

Em breve, mais notícias sobre a cervejaria!
O Mestre

domingo, 30 de outubro de 2016

Capítulo 15 - O Morro dos Vaga-Lumes

   A lua ia alta no céu, iluminando o gramado do quintal onde, horas atrás, pisara a criatura divina chamada Skarri. Após uma emocionante demonstração de devoção dos dois anões, a equipe (com a exceção de Aleena, que não descera de seus aposentos) continuou a comemoração, dessa vez mais calmos, mas mais satisfeitos que nunca. Sven e Thudar se recolheram cedo para seus quartos no subsolo, enquanto Darsh ficara um pouco mais, entretido na conversa, mas acabou se retirando também. Sobraram, sentados no chão da varanda, Tom e Drake, confabulando amigavelmente. O frio do inverno formava nuvens de névoa na frente de suas bocas, mas a bebida consumida (e uma pesada capa de pele para Tom) espantava o gelo.

www.flickr.com


    Drake sorveu um longo gole do stout escuro que Thudar cedera para a comemoração, limpou a boca e falou, como se para si mesmo:
   - Uma deusa, hem? Bem aqui, nesse gramado. Quem diria.
   Tom deu uma risadinha.
   - Que foi, Drake? Nunca o tomei por um daqueles que duvidam da existência dos deuses. Sua falta de fé foi abalada?

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Histórias de Outros Mundos 4: Ao Pé da Letra

Enviado por Mark em 17/10/2016

   Muita gente aprende a jogar D&D ainda jovem, e isso sempre rende histórias hilárias. No nosso caso, o maior problema foi um mestre que interpretava tudo literalmente.
   No meu primeiro combate da vida, eu enfrentava um orc com meu Mago de nível 1. Por sorte, ele estava a 30 metros de distância, me dando vantagem para matá-lo com magia antes que ele enfiasse o machado duplo no meu... bom, não vou me ater aos detalhes.
   Olhando minha lista de magias, decidi que ia usar "Mísseis Mágicos" (minha experiência anterior com o D20 tinha me deixado meio desanimado, então escolhi uma magia que nunca erra). Pra quem não sabe, é uma magia que dá singelos 1d4+1 de dano na forma de um pequeno dardo de energia prateada.
   O Mestre (também narrando sua primeira aventura) mandou que eu rolasse o dano. Rolei um 4, somando o bônus da magia, dei 5 de dano, que era o máximo possível. Pra minha sorte, era o suficiente para matar o orc de primeira. Mas a cereja no bolo foi a descrição do ataque...
   Empolgado, o mestre anunciou que um pequeno míssil em miniatura feito de luz surgiu na minha mão e disparou na direção do orc (soltando fumaça e tudo). Quando ele atingiu o orc na barriga, o mini-nuke explodiu à lá Power Rangers, lançando o orc 12 metros pra trás (com só 5 de dano!). Os outros jogadores contestaram o mestre, mas ele disse "O nome da magia é Mísseis Mágicos!".
   Aquela campanha não foi além do nível 3, mas sem dúvida eu, o Mago Nuclear, fui o jogador mais forte, explodindo monstros quase a bel prazer o tempo todo com uma simples magia de nível 1.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Recomendações do Mestre: Kubo e as Cordas Mágicas

Saudações, aventureiros!

   Muito embora este não seja um blog sobre cinema, depois de assistir esse filme fantástico - Kubo e as Cordas Mágicas, de Travis Knight (Kubo and the Two Strings, 2016) - eu me senti na obrigação de escrever pelo menos uma notinha aqui pro blog (sem spoilers!)



   Kubo é um filme de animação infanto-juvenil feito em stop motion pelo estúdio Laika (Coraline, ParaNorman). Ele se vale da temática oriental pra contar um drama/aventura sobre Kubo, um jovem rapaz com poderes mágicos especiais que precisa reunir artefatos lendários para derrotar um grande mal. Parece clichè, não? Mas podem ficar tranquilos: a execução e o desenvolvimento do filme são extremamente bem-feitos, e a trama, ainda que simples, não deixa nada a desejar.
   Com personagens únicos e diálogos nada vazios, Kubo cativa o telespectador. A trilha sonora distinta é um personagem dentro da trama, o que dá um toque especial para a obra. Por fim, para quem se interessa por efeitos visuais, saber que o filme foi feito com animatrônicos e stop motion é um prazer à parte, graças ao carinho e detalhismo do Laika.


   Mas por que falar disso aqui? Bom, qualquer amante de RPG ganha - e MUITO - indo assistir a esse filme. Além de termos elementos que remetem ao fantástico complemento Aventuras Orientais de D&D 3.0, a própria estrutura do filme lembra  uma aventura clássica de D&D; temos lutas bem executadas, masmorras com armadilhas, um bardo com poderes mágicos, monstros bizarros e vilões usando feitiçarias. Se você é um fã de animação ou de RPG, Kubo e as Cordas Mágicas vale cada centavo do ingresso. Corra para os cinemas antes que saia de cartaz!

O Mestre

sábado, 22 de outubro de 2016

Histórias de Outros Mundos 3: O Bardo Pistoleiro Parte em Busca da Redenção de Seus Pecados

Enviado por Ary Barros em 15/10/2016
 
Jogamos em uma mesa que combina medieval e fictício em um mundo onde os humanos são invasores vindos de outro planeta, mas tiveram problemas que acabaram fazendo-os perder parte de seu controle sobre a tecnologia.
    Certa vez acabamos nos comprometendo de eliminar lobisomens que atacavam a parte baixa da cidade; investigação vai investigação vem voltamos para a base de nossa guilda  e começamos a discutir as informações recolhidas. Eis que ouvimos um barulho no teto de nossa casa; o grupo se divide nos que vão para o segundo andar e os que vão pra fora observar. Os de fora confirmam a posição do lobisomem e os do segundo andar puxam as vigas, derrubando-o para dentro da casa (Bárbaros). Não tínhamos armas de prata, mas eu com uma pistola laser e o clérigo conseguimos derruba-la com os disparos e magias, graças dos bárbaros manterem a criatura parada agarrando-a (e chegando até a quebrar um braço dela).
   Batalha vencida, o lobisomem se revela uma elfa. Me aproximo com a pistola e pergunto quem ela era;  dando uma de lado como uma esnobe para evitar a pergunta, disparo contra seu braço quebrado (a fratura estava no ombro), que é então arrancado do corpo pelo raio, e eu fico meio no "Eita porra!".
   No meio tempo, o resto dos jogadores sobem para onde estamos e então um elfo NPC fala "O que vocês fizeram com ela, ela é a princesa elfa da cidade!". Eu entro no modo "Fuck this shit, I'm out!", e nunca mais o bardo da pistola laser foi visto. Dizem que ele partiu numa busca de redenção por arrancar o braço de uma bela elfa.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Histórias de Outros Mundos 2: Saber Ouvir

Enviado por Dsea em 19/09/2016

   Após o lançamento do Livro do Jogador 2 para a Quarta Edição de D&D, decidimos finalmente desapegar um pouco da 3.5 e montamos uma mesa para experimentar a nova versão. Nossa equipe era composta por um Halfling Ladino, uma Tiefling Maga, um Anão Senhor da Guerra, um Humano Ranger e um Anão Druida (jogado por mim).
   Nossa companhia era um tanto quanto grande e, devido a backgrounds dramáticos e a um começo conturbado, os ânimos ficavam constantemente alterados. Uma tensão especial ocorria entre meu Druida e o Senhor da Guerra (inspirado em Thorin Escudo-de-Carvalho); ele não admitia a presença de um anão imundo que falava na língua dos elfos, enquanto meu Druida... bom, como a maioria dos personagens, ele era um porta-voz do caos e não levava desaforo pra casa.
   Enquanto explorávamos as ruínas subterrâneas de uma fortaleza de Draconatos, nos envolvemos num combate contra uma turba de Kobolds e seus Besouros-de-Fogo de estimação, o cenário sendo uma longa escadaria espiral. Devido a uma série de azar nos dados, estávamos sendo massacrados por inimigos não muito desafiadores. Foi então que o Senhor-da-Guerra, fiel à sua interpretação, decidiu atuar como o comandante que deveria ser e gritou para meu Druida: "Derrube-os lá pra baixo!".
   O Mestre deu um sorriso maligno e solicitou que eu fizesse um teste de Percepção para ver se meu Druida conseguira ouvi-lo no meio do caos da batalha. Arremesse o dado e... 1. Falha crítica.
   O Mestre anunciou que, em meio à confusão e influenciado pela rivalidade entre os dois Anões, o Druida tinha entendido que o Senhor da Guerra caçoava dele, mandando ele se jogar das escadas por ser inútil no combate. Meu Druida, claro, ficou irado e avançou contra o comandante, tentando matá-lo... mas acabou, ironicamente, caindo no espaço vazio entre os degraus e perdeu a consciência, vários andares abaixo.
   Depois desse completo desastre, o grupo aprendeu duas lições: a primeira era manter os dois anões separados, e a segunda era levar muito a sério quando nossas mães dizem que termos que aprender a ouvir.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Mais desculpas!

Olá aventureiros, tudo bem?
 
   Sim, esse é mais um post de desculpas com vocês, justificando a ausência de posts nessa segunda e as prováveis ausências futuras nesse mês. Com a sombra do fim de ano sobre nós, as obrigações no Plano Material ficam mais urgentes e o tempo para escrever se torna cada vez mais escasso, infelizmente.


   Outubro é um mês-chave para mim no trabalho, então muito provavelmente não serão postados textos das Crônicas, Personagens em Perspectiva e outros extras até, pelo menos, o dia 27/10/2016. No entanto, respirem tranquilos ao saber que as Histórias de Outros Mundos continuarão a serem postadas semanalmente - aliás, por que não contribuir com a sua própria história? Envie seu conto para nosso e-mail cia.inconsequente@gmail.com e veja suas experiências compartilhadas aqui no blog.
   Agradeço a sua paciência e em Novembro retornamos com a nossa programação normal.

O Mestre

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Histórias de Outros Mundos 1: Clavículas e Rancores

Salve, aventureiros!

   Há algumas semanas estive divulgando em grupos e comunidades de RPG a possibilidade de publicar histórias leves e bem-humoradas sobre as experiências dos leitores em suas próprias mesas (uma ideia originalmente plagiada do espetacular blog gringo Table Titans). Para minha felicidade, já recebemos algumas histórias e pretendo publicá-las aqui semanalmente! Quem quiser contribuir com a seção Histórias de Outros Mundos basta enviar seu conto (com título e autoria para referência) para o e-mail de contato do blog, cia.inconsequente@gmail.com.
   Segue, abaixo, nosso primeiro conto, Clavículas e Rancores, enviada por Andreli em 19/09/16:

   O nosso grupo jogava D&D 3.5 na época que estávamos na escola (lá em 2007), e fazíamos rotação de Mestres. Na época a gente seguia as regras ao pé da letra, então house rules não eram nem um pouco bem-vindas. Tudo estava indo relativamente bem, até o dia em que um dos Mestres decidiu colocar um combate PvP no jogo... e, sendo um bando de moleques jogando, é claro que não deu certo.
   Um dos jogadores, um Monge Humano, decidiu que estava treinando para o combate ao socar árvores, como se fosse um ninja. Seu adversário, um Ranger Elfo (especializado em arquearia) se rendeu à tendência Caótica e não quis esperar o Mestre anunciar o confronto oficial, e atirou uma flecha de seu Arco Longo Composto +2 no Monge.
   É claro que foi um acerto crítico.
   Como se o jogador do Monge já não estivesse revoltado o suficiente por ter sido atacado de surpresa, nessa hora o mestre decidiu adicionar um pouco de realismo e, em vez de só distribuir o dano, afirmou que uma clavícula do Monge fora partida em duas pela flecha e que ele estava com um braço inteiro inutilizado. Como não usávamos house rules (e, na verdade, estávamos mais preocupados com decapitar orcs do que com interpretar personagens), começou uma enorme discussão entre os dois Jogadores e o Mestre que só terminou quando o jogador do Ranger caçoou tanto do Monge que o seu jogador saiu da sala de tão nervoso.
   Mas a história não ficou por aí: era uma mesa de Mestres rotativos, lembram-se?
   Quando chegou a vez do jogador do Monge mestrar, seu rancor aflorou. Se o Ranger era acertado em combate? Clavícula quebrada. Falhou no teste de Escalar? Caiu 12 metros e quebrou a clavícula. A negociação com os NPCs deu errado? Foi socado no peito e quebrou a clavícula. A situação começou a ficar realmente ridícula quando, no meio de uma tempestade, um relâmpago atingiu o Ranger "aleatoriamente" e a sua clavícula se rompeu dado "à corrente elétrica".
    A lição que ficou foi: nunca, nunca sacaneie um jogador quando os Mestres são trocados constantemente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Personagens em Perspectiva: Dûr Sven

Olá aventureiros, tudo bem?
   Estou introduzindo aqui uma nova seção do blog, chamada Personagens em Perspectiva. Aqui, pretendo dissecar um pouco os personagens da Companhia Inconsequente em termos técnicos para agradar aos fãs inveterados de D&D. Nesses artigos vou mostrar um pouco dos Talentos, Perícias, Magias e Equipamentos dos personagens, tentando contextualizá-los com seu background.
   Para evitar datar o post, eu não focarei em valores e números, mas sim o que estes valores significam no contexto atual (uma vez que, como continuamos jogando, esses números vão aumentar).  E, para começar, trataremos do líder atuante da Companhia, nosso querido anão clérigo Dûr Sven!



Básico
   Sven é um anão das colinas (raça base do Livro do Jogador 3.5), clérigo de Moradin (seus domínios são Proteção e Terra, ambos escolhidos no Livro do Jogador 3.5). Ao contrário da maioria dos anões e, especialmente, dos clérigos de Moradin, a tendência de Sven é Neutra e Boa, o que significa que ele coloca os costumes ordeiros do seu povo de lado para atingir um bem comum (confira nosso post sobre Tendências Boas aqui). Para mais detalhes sobre Sven, confira o post introdutório dos personagens aqui.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Interlúdio - Skarri, a Esmeralda

   Os conhecimentos abaixo fazem parte das tradições religiosas da fé de Moradin, ensinados a seus clérigos na Ilha dos Deuses (onde foram ordenados Dûr Sven e Dûr Thudar, há alguns anos).
   Dentre os Primogênitos de Moradin, nenhum é mais benevolente ou querido do que Skarri, a Esmeralda. Ela é a mestra-curandeira dos anões, a diplomata da paz, e seus ensinamentos pregam o autossacrifício em prol dos mais fracos e a união entre os povos, sejam anões ou não. Sua história e seu credo dão a ela um aspecto muito mais agradável para membros de raças não-anãs, e os raros clérigos de Moradin que não pertencem ao Povo de Pedra normalmente são seduzidos por sua doutrina.
   Como todos os Primogênitos, Skarri foi um dia uma anã mortal que acendeu à divindade graças à suas ações na vida terrena. Ela viveu há milênios atrás, na Era dos Dragões. Eram tempos terríveis, quando os anões das ilhas de Kortlan viviam isolados em batalhas horrendas e guerras intermináveis contra os grandes dragões do Norte. Os clãs tinham pouco amor uns pelos outros e os humanos eram ainda menos dignos de confiança, uma vez que lutavam ao lado dos dragões tantas vezes quanto contra.
   
jedigamer.weebly.com

   Skarri nasceu nas terras que hoje se chamam Dartistaed, capital moderna de Kortlan. Seu berço era nobre, pois era a filha do Príncipe Bordogund e sobrinha do Rei Baragund de Gundhal, o Palácio das Esmeraldas. Entretanto, desde a tenra infância, Skarri foi diferente: ao contrário de seus irmãos e primos, que ambicionavam com a guerra e sonhavam com dragões mortos, Skarri sempre se preocupou com ajudar os feridos pelas tais guerras e buscava, acima de tudo, acabar com a miséria e a dor que se abatia sobre seu povo. Quando chegou na idade adulta, a jovem Skarri renunciou sua herança e se tornou uma clériga peregrina, viajando pelo Norte e buscando ajudar seus irmãos e irmãs anões.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Capítulo 14 - Reforjado

   Quando os companheiros de Sven se lembravam daquele confronto, o último golpe trocado entre os oponentes tinha sempre destaque na memória. Sven vencera a luta copiando o movimento que o próprio Ronnet usara antes para desarmá-lo: ao fingir golpeá-lo no queixo, de baixo pra cima, o anão desviara o martelo no último segundo, atingindo a manopla negra que segurava o mangual flamejante. 
   Por sorte, o comprimento e a fluidez das correntes fazia com que o arco das bolas de ferro fossem muito mais demorado do que o rígido martelo do anão, e cada osso da mão de Ronnet ficou completamente esmigalhado no movimento. O mangual desceu de forma totalmente errônea, atingindo Sven no ombro esquerdo; entretanto, embora as chamas mágicas causassem uma mossa semiderretida na armadura élfica, o golpe fora fraco, e o anão saíra do confronto ileso enquanto a arma do oponente caía no chão.

 www.pinterest.com

   Depois disso foram segundos até que o elemental de Sven chegasse até Ronnet e o atingisse com força nos flancos, lançando o já ferido soldado no chão. Ele tentara se levantar, apesar do rosto feio estar torcido de dor, mas nessa hora o Duque decidira que tinha visto o suficiente. As trombetas soaram, o combate foi dado como finito e Sven fora declarado vencedor. O Duque anunciou, em voz alta, que as medidas previamente acordadas seriam respeitadas e a reforma no Templo de Moradin estava legalizada (e agora seria custeada pelo tesouro do Templo de Hextor). Muitos na multidão aplaudiam - os anões pulavam de alegria, os membros da Companhia gritavam - mas não poucos saíam da arena quietos e mal-encarados. Obviamente, entre estes estavam Jocelyn e os demais membros do Templo de Hextor.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Os Desafios da Escrita

Olá, aventureiros!

   O último capítulo das crônicas - A Forja e a Manopla - foi certamente o mais difícil de escrever até agora. Já tem um tempo que alguns leitores estavam comentando sobre a ausência de combates propriamente ditos, típicos de aventuras de RPG - e eu concordo que faltava uma pitada de ação aqui no blog.

   Isso reflete tanto meu estilo de mestrar - com poucos encontros significativos espaçados entre eventos de roleplay - quanto a frequência dos posts do blog. É espantoso o quanto as sequências de interpretação tomam tempo na escrita!

   De qualquer forma, chegamos ao primeiro grande combate da história das crônicas. Foi uma experiência de escrita ímpar - tentar traduzir um encontro de RPG, algo estático e em turnos, para uma luta que cative o leitor e ao mesmo tempo permaneça fiel à essência do combate original é um desafio e tanto. Eu demorei muito tempo desenvolvendo esse capítulo e espero, sinceramente, que os leitores se encantem com ele ao imaginarem essa batalha acontecendo. Dá pra ver a quantidade de esforço vai ser gigante no futuro - afinal de contas, teremos muitas lutas ainda por vir!

   Uma boa leitura a todos,
O Mestre

Capítulo 13 - A Forja e a Manopla

   O coração de Sven pulou no peito quando a multidão gritou. A chuva fina e gelada tamborilava em seu elmo.
   Seu oponente avançou pesadamente. Aquilo era bom; ninguém aguentava o peso de uma armadura da mesma forma que um anão. Sven também avançava, mas parecia que suas pernas eram de manteiga e que estava pisando em nuvens. "Controle-se, Sven! Não é hora de ficar nervoso!".
   Pararam a três metros um do outro. Sven não conseguia ver o rosto de seu oponente, apenas a careta do demônio em seu elmo negro. O tal Ronnet ergueu o mangual, em desafio... e começou a entoar um cântico baixo e febril na língua Garmûni. "Começou".

tvtropes.org

   O anão não perdeu tempo. Ergueu a mão esquerda e começou a sua própria oração, na língua de seu povo. Pediu a Moradin que emprestasse sua arma para derrotar os inimigos de sua fé, e o Deus ouviu: uma luz flamejante brilhou e formou uma cópia idêntica do martelo de guerra na mão oposta. Os espectadores prenderam a respiração, excitados.

domingo, 14 de agosto de 2016

Thomas de Bernargrie

Olá aventureiros!

Temos aqui essa maravilhosa ilustração do nosso xamã Thomas de Bernargrie (e seu fiel companheiro espiritual Shebasthan) feito pela artista ALC. O tapa-nariz é um pequeno spoiler do que está por vir, mas... não se preocupem, chegaremos lá.


Até mais!
O Mestre 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Capítulo 12 - Os Sacerdotes Guerreiros

   Drake levantou-se, acordado pelo pálido Sol nascente que lutava para atravessar as venezianas. Um vento frio soprava pelas frestas da janela; há alguns meses atrás, esse mesmo vento teria arrepiado seu peito nu e enviado calafrios pela sua espinha, mas não mais. Desde que sua verdadeira natureza aflorara, o frio e o calor que afligiam os homens comuns pouco o incomodavam.
   O ladino espreguiçou-se e voltou a sentar na cama, acordando sua outra ocupante.
   - Já acordado? - Helen, também chamada de Pardal, sorriu preguiçosamente para ele.
   Drake deu um meio-sorriso de volta. - Já... tenho que ir à Fortaleza.
   - Ver seu amigo anão?
   Drake fez que sim. Helen levantou-se, revelando mais uma vez o corpo nu. Seus seios eram pequenos e sua forma era magra e dura, muito diferente de uma camponesa ou de uma fidalga; para Drake, no entanto, era mais bela do que qualquer outra. "O corpo de uma lutadora," pensou ele.
   Tiritando de frio, a moça apanhou uma túnica num velho cabide no canto da sala. O sobrado que ela alugava era um lugar feio e soturno, mas Drake amava o tempo que passava ali. Suspirando, o rapaz calçou suas botas.
   - Não está com frio? - a moça correu um dedo pelos seus ombros magros.
   - Tem que ser mais frio que isso pra me incomodar - disse Drake, presunçoso, vestindo agora o justilho de couro.
   - Nossa, que durão. Meu homem - disse a moça, carregando a voz  de sarcasmo.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Chegamos ao Nível 2 & Nossa Primeira Arte Original!

SAUDAÇÕES, AVENTUREIROS!!!

É com grande orgulho que eu anuncio que a Companhia Inconsequente acaba de atingir seu primeiro milhar de acessos! E, como todos sabemos, quando se chega em 1.000, você passa para o nível 2!



Agradeço muitíssimo aos meus jogadores pela força e empolgação, assim como pelas piadas excelentes (quase sempre). Agradeço mais ainda a vocês, aventureiros, que nos agraciaram com sua paciência e atenção! Escrever aqui é uma verdadeira terapia para mim, e é graças a todos vocês que isso tem ganhado visibilidade. Muito obrigado, mais uma vez!

E para comemorar  nossa primeira conquista, aqui está a nossa primeira arte original! Feita pela artista ALC (Confiram a página dela e façam comissões! Além de talentosa, ela é um doce de pessoa!), temos aqui ilustrada a nossa guerreira Aleena Fogo-Vivo!


Pela última vez, obrigado a todos os envolvidos! E fiquem ligados para mais posts!

Explodindo de orgulho,
 O Mestre

Capítulo 11 - O Julgamento de Sven

   As masmorras da Fortaleza de Sidar eram úmidas e cheiravam à maresia. Tinham o aspecto sombrio e deprimente característico das instituições desse tipo; a falta de janelas tornava o ambiente escuro, e a única iluminação  provinha da vela na mesa do carcereiro principal. Sven, no entanto, não deixara se abater, e no momento pregava fervorosamente para o guarda, que tentava seu melhor para ignorá-lo.
   - "...Sete Gemas em minha coroa, assim como sete são os meus filhos! Sede bravo como o Rubi, gentil como a Esmeralda, sábio como o Ônix, devoto como a Safira, perseverante como o Diamante, confiante como o Topázio e esperançoso como a Ametista!" - Sven tomou fôlego - Ele disse assim para Thorund Mãos-de-Pilão, e Thorund ouviu. "Sim, Pai de Todos", respondeu ele, e pôs-se a construir o que seria o maior e mais próspero dos reinos do Norte. Pois o gigante Gargarkar estava morto e seu domínio de maldades tinha sido findado, e o Bravo Povo poderia viver em paz...
   O sacerdote foi interrompido por uma súbita claridade e pelo som da porta da masmorra se abrindo. Dois guardas uniformizados entraram e um deles anunciou:
   - Dûr Sven, o Duque o aguarda.
   - Graças a Fharlanghn e a todos os deuses - suspirou o carcereiro.
   - E a Moradin! - disse Sven, enquanto a porta de sua pequena cela era destrancada - Venha ao templo um dia desses, carcereiro, e poderemos continuar nossa conversa!
   O guarda fez uma cara de quem preferiria comer estrume a ouvir a mais um minuto de sermão, enquanto Sven era conduzido para fora das masmorras.

www.giantbomb.com

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Capítulo 10 - A Frustração de Aleena

   - Opa, cuidado!Tenha mais calma, orc! Essas pedras são importadas do Sul!
   Darsh, o feiticeiro, usava alguns encantos para levitar os blocos de pedra cortada para o teto do pequeno templo de Moradin, inspecionado por Sven. O meio-orc se virou, nervoso, para o anão.
   - Pensa que é fácil levitar uma pedra desse peso? Prefere que eu as arremesse com as mãos?
   Sven resmungou algo pra si mesmo, mas não insistiu; afinal de contas, Darsh estava ajudando de boa vontade. Virou-se para observar o resto da obra.
   Vários anões (e alguns humanos) andavam pelo espaço do templo, atarefados. Alguns estavam substituindo as velhas pedras cinzentas e quebradas por novas, polidas e brilhantes; outros limpavam e escovavam as colunas interiores, reabasteciam os braseiros e varriam o chão. Uma mesa de trabalho fora montada no jardim que circundava o templo, e lá o velho arquiteto Gertrum planejava a ampliação da estrutura externa do templo. Sven limpou a testa suada no antebraço peludo; sorriu, satisfeito, pois aquilo estava começando a ficar com a cara de um templo de verdade.
  

 suptg.thisisnotatrueending.com

    - Mestre Sven! Mestre Sven! - chamou uma voz, na língua dos anões.
   Era Gertrum. O anão calvo possuía uma longa barba branca que tocava o chão, e sempre o tratava com grande deferência. Ele vinha carregando um rolo de pergaminho e tinha as mãos sujas de tinta esverdeada.
   - Diga, Gertrum! Algo de errado?
   O ancião coçou a barba, sem jeito.
   - Na verdade, mestre, há sim. As mudanças que você pediu que eu planejasse... bom, reformar um pequeno templo é fácil e relativamente barato. Ampliar a estrutura, no entanto, é outra história.
   - Como assim? Não pode ser feito?
   - Pode, mas faltam recursos... equipamentos, material, força de trabalho... teremos que escavar os arredores para construir o subsolo, levantar pelo menos mais nove colunas...
  - Ouro - interrompeu-o Sven - não é um problema. De quanto precisamos?
   Gertrum retorceu a barba, nervoso.

Onde estávamos mesmo?

   É isso aí, aventureiros, a Companhia voltou!

 
   Houveram diversos imprevistos e problemas de Março pra cá; eu andei enfrentando meus próprios dragões cotidianos. Mas, poção derramada não volta pro caldeirão, então... nada disso importa, pois estamos de volta! Um pouquinho, pelo menos.
   Vou me esforçar ao máximo para encaixar o blog entre as minhas obrigações para me tornar um Mestre na vida real (academicamente falando). Portanto, esperem algo em torno de uma publicação por semana. É pouco, eu sei, mas, até que as coisas se aliviem, é melhor que nada. Eu acho.
   De mais, desejo a vocês uma boa leitura e muitos pontos de experiência!

O Mestre

segunda-feira, 7 de março de 2016

Afogado em Trabalho

   Olá aventureiros, tudo bem?

   A vida adulta é uma amante instável. Ela nos presenteia com dinheiro e liberdade, mas também com contas de banco e responsabilidades em medidas proporcionais.

   Eu nunca falei isso aqui, mas eu estou cursando mestrado (pra então ser "mestre" em dois sentidos, haha) numa universidade pública. Nesse exato momento, estou preso em uma época de grande esforço de coleta de dados para a minha dissertação, o que me toma muito tempo e é bastante cansativo. O reflexo natural é cortar nossos prazeres cotidianos para dar espaço para meu dever... e o blog, infelizmente, faz parte disso.

   Escrever um capítulo das crônicas da Companhia, infelizmente, me consome um tempo que não posso gastar nesse momento (o tempo médio varia entre 1,5 a 3 horas gastas para cada post). Por isso, peço desculpas aos meus queridos leitores, pois não poderei mais seguir as metas estabelecidas com a periodicidade necessária.

   Agradeço de antemão a compreensão de vocês, e fiquem tranquilos: assim que a turbulência passar, voltaremos ao ritmo normal (eu avisarei aqui). Por enquanto, farei pressão n'O Ladino para que ele mantenha a saga do Abraço da Escuridão regular para vocês. Um pouco de feedback animaria ele, sem dúvida!

   Na esperança de um futuro mais brilhante,
O Mestre

sexta-feira, 4 de março de 2016

Tendências e alinhamentos - Personagens Neutros

   Olá aventureiros! Espero encontrá-los bem!

   Dando continuidade ao nosso primeiro post sobre Personagens Bons, falaremos um pouco sobre Personagens Neutros (no eixo moral, conforme já discutimos).
   A primeira coisa que eu gostaria de estabelecer, antes de mais nada, é que existem duas formas diferentes de encarar o posicionamento Neutro (e as duas não se excluem). A primeira forma é a moralmente ambígua; ela é observada em personagens neutros que transitam ocasionalmente entre ações más e boas. Ela pertence a personagens adaptáveis, que são capazes de boas ações mas também tem seus momentos ruins. Essa talvez seja a tendência mais próxima da vida real, uma vez que, com raras exceções, nós raramente podemos ser definidos no preto ou no branco, normalmente transitando entre tons de cinza (sem trocadilhos, por gentileza). Esse modelo de personagem neutro ambíguo é claramente observado no personagem Drake Krwosey, membro da Companhia.
   A segunda forma de encarar a tendência neutra pode ser chamada de neutra obstinada, chamada por alguns de "postura suíça" ou "em cima do muro". Personagens nesse modelo são neutros de coração, se excluindo de qualquer conflito moral. São vistos por muitos como personagens que não ligam para os problemas dos outros, sendo retratados algumas vezes como malignos; de fato, existe uma linha tênue entre o indiferente e o sádico. Entretanto, personagens neutros obstinados (como Darsh Mãos-de-Fogo, na Companhia) são menos propensos a executar atos malignos de verdade, ao contrário dos ambíguos.
 
   Dito isso, vamos explorar as três diferentes modalidades de tendências neutras!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Capítulo 9 - Deerg

   Pardal cravou a adaga no couro da armadura de Drake. Puxou e empurrou a ferramenta, dilacerando o material.
   - Isso! - disse Sven - Agora retire a flecha, com cuidado. Se a ponta quebrar, será um pesadelo.
   Com um som úmido, Pardal puxou o restante da flecha que atingira o pulmão de Drake. O projétil veio empapado de sangue, e o homem tossiu e gemeu.
   - Agora nos libere, por Moradin. Preciso curá-lo.
   A moça se encaminhou para eles. Ela era muito bonita, pensou Thomas. Jovem, com um rosto em forma de coração e cabelos da cor do trigo, cortados na altura dos ombros; tinha uma expressão zombeteira nos olhos castanhos brilhantes, mas naquele momento suava e parecia tensa. Puxou duas ferramentas metálicas do bolso da calça e pôs-se a trabalhar nas fechaduras das correntes; em poucos instantes ambos estavam livres.
   - Rápido - disse ela - Temos pouco tempo até o mestre chegar aqui.
   Sven ajoelhou-se ao lado do amigo. Tocou no talismã de Moradin dado de presente por Thudar e murmurou febrilmente um cântico na língua dos anões, enquanto estendia sua outra mão sobre o corpo de Drake. Uma luz alaranjada, como as brasas de uma forja, iluminaram o ferido, concentrando-se em feixes nas feridas. As outras duas flechas, cravadas no rim e no ombro direitos, foram lentamente expelidas da carne como se alguém as empurrava por dentro. A luz se apagou lentamente, e Drake levantou-se gemendo.
   - Aaaaaah... - colocou a mão nas costas, tateando - ... o que... Sven... - Seu olhar encontrou o de pardal, finalmente; Drake levantou-se em um salto, apenas para cambalear e despencar, sentado - Você!
   - Eu - disse Pardal, se permitindo um sorrisinho maldoso.
   - O que você está fazendo aqui, sua víbora traiçoeira?
   - A "víbora traiçoeira" acabou de salvar nossas vidas. - comentou Thomas, levantando as sobrancelhas - Os bandidos queriam nos levar pro chefe deles depois que você decidiu que sabia voar, e foi ela que pediu para nos trazer pra cá.
   - Exatamente. - disse ela, sustentando o sorriso. - Mas agora não é hora de bater papo. O mestre vai chegar a qualquer momento, e vocês tem que dar o fora. Andem, peguem suas coisas, estão ali no canto.

percivel.wordpress.com


   Os três se armaram novamente e apanharam o restante dos pertences. Tom perguntou a Drake, curioso:
   - Quem é ela? De onde vocês se conhecem?

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Capítulo 8 - As Andorinhas de Mohrstarr

   Clang. Clang. Clang. A cada passo de Sven, trajando sua mais nova armadura élfica, o metal chocalhava e ressoava pelas ruas iluminadas pela lua no Distrito dos Templos.
   - Pelos grandes espíritos, - disse Thomas. Ele vestia sua silenciosa cota de mitral por baixo das roupa leves, carregando apenas sua lança (também élfica) - achei que uma armadura élfica fosse mais discreta do que isso.
   - Não é só a armadura. - chiou Drake, nervoso. Levava seu arco e uma aljava cheia de flechas, e vestia uma capa escura com o capuz a cobrir seu rosto - O maldito clérigo anda como um ganso manco. Eles nos vão ouvir chegando há meia milha de distância.
   - Calem a boca, vocês dois - irritou-se Sven. Anões não eram bons em incursões silenciosas na noite, e mesmo que a armadura fosse mais leve do que o normal, isso não impedia que Sven fizesse uma cacofonia desnecessariamente alta ao andar.
   Vagaram pelas ruas do Distrito dos Templos enquanto Tom procurava identificar o local até onde seguira a jovem loira que havia reconhecido como a ladra que atacara Oc em seu primeiro dia na cidade; no entanto, estava achando difícil achar o local novamente.
   - É diferente à noite - reclamou o velho, enquanto Drake protestava.

www.flickriver.com


   O Distrito dos Templos era relativamente vazio após o crepúsculo. Tinha poucas tavernas, e, portanto, seus moradores (basicamente sacerdotes, acólitos, noviços e aqueles que os prestavam serviços) preferiam escapar para o Distrito da Prata quando tinham sede de álcool ou diversão. Era um local diferente do abarrotado Distrito da Prata ou das ruas estreitas do Distrito Baixo: os Templos ficavam entre ruas amplas, calçadas em pedra lisa, cercadas por um sem número de mini-bosques, laguinhos artificiais e pequenos riachos que corriam preguiçosamente. Jardins floridos abundavam, com grandes mariposas peludas voando sobre as damas-da-noite, seu cheiro doce enchendo os pulmões dos passantes. Era, sem dúvida, o local mais bonito da cidade.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Abraço das Sombras: Capítulo 2 - Reminiscência

Este capítulo faz parte do Abraço das Sombras, blog-irmão do Companhia Inconsequente. Para mais informações, ver este post.

Capítulo 2: Reminiscência

Karl nasceu na segunda noite de um chuvoso verão garmuni. Sua mãe, Leistung Starkeroamer, vinha sentindo-se fraca por semanas e não sobreviveu ao trabalho de parto. Coube a Hart Hvitstein, seu pai, criá-lo, como dita a tradição garmuni, pois jamais voltou a se casar.

Capítulo 7 - Sete Dias de Outono

   Após a visita da Companhia à loja do curioso Boobeedabeetz, retornaram à casa de Xhu Sie e Thudar. A partir daquele dia, passariam ali meia quinzena de dias, e uma rotina foi se estabelecendo lentamente.
   Certamente ninguém tinha um dia-a-dia mais duro do que Aleena. Na noite do dia que foram à loja de Boobeedabeetz, Thudar acendera sua forja e Xhu Sie ordenara que ela depositasse ali sua espada. Aleena cerrou os maxilares e segurou as emoções enquanto sua lâmina se derretia no calor; era como observar uma parte da sua vida se desfazendo diante dos olhos.

www.blablablaegargalhadas.com

   A ruiva era acordada na madrugada, todos os dias, por Xhu Sie. Comprava leite, pão e queijo para que todos na casa pudessem ter um desjejum digno; em seguida, preparava a cozinha, varria o chão da casa, limpava a latrina, cortava lenha para a lareira, jardinava, lavava roupas do grupo, polia e lustrava as armas e armaduras. A pobre guerreira não compreendia, em absoluto, qual era o significado do dito "treinamento". Tentava ao máximo ser paciente e não questionar sua mestra para não aparentar estar desistindo tão rápido, mas seus companheiros faziam com que a tarefa se tornasse praticamente insuportável. Tom e Sven acharam graça na situação, mas pararam de fazer piadas por volta do segundo dia; no entanto, Darsh não apenas tinha um estoque inesgotável de frases sarcásticas como parecia estar em todo lugar que Aleena ia, sempre a fazer troça. Pior talvez era Drake, que a fazia trabalhar muito mais do que devia ao afirmar que "O pão estava com um gosto um pouco estranho" ou que "Minha capa não foi esfregada com a dedicação suficiente". Aleena bufava e ficava num tom perigoso de vermelho, mas nada podia fazer se não quisesse continuar no treinamento, e por isso aguentava o sofrimento calada.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Tendências e alinhamentos - Personagens Bons

   Olá, aventureiros!
   
   Hoje temos um post para encher linguiça tratando um pouco sobre o metajogo de Dungeons & Dragons; mais especificamente, falaremos sobre um assunto muito batido, mas digno de discussão: as tendências, ou alinhamentos de personagens.
   Esse assunto é tópico favorito de discussão entre RPGistas, e já existem toneladas de material feito no assunto. Entretanto, eu sempre tive ressalvas em relação ao entendimento acerca de algumas tendências, especialmente as mais "difíceis" (Caótico e Bom / Leal e Mau). Portanto, decidi criar um post bem padrão falando sobre as tendências em Dungeons & Dragons, dando exemplos na cultura pop, de forma a deixar meu ponto de vista claro para veteranos e novatos no jogo.

uncelebrity.blogspot.com

   Existem dois aspectos clássicos que definem a tendência de um personagem, isto é, a forma como ele percebe e interage com o mundo à sua volta. O primeiro é o eixo moral - que varia entre o Bom, o Neutro e o Mau. Eu gosto de relacionar o eixo moral com a empatia e o altruísmo/ egoísmo; um personagem Bom é capaz de abrir mão de seus próprios ganhos ou de sair do seu caminho para ajudar outros seres, enquanto um personagem Mau normalmente faz tudo pensando em algum objetivo pessoal. O eixo ético, por sua vez, se relaciona com a visão de sociedade do personagem, e varia entre o Leal, o Neutro e o Caótico. Personagens Leais costumam ter visões bem claras sobre hierarquia e códigos de conduta sociais, enquanto personagens Caóticos prezam a liberdade individual e normalmente se incomodam ao serem limitados por leis e regras.

   Vamos às combinações clássicas de tendências em D&D para os personagens Bons!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O Abraço das Sombras: Capítulo 1 - Prólogo

Este capítulo faz parte do Abraço das Sombras, blog-irmão do Companhia Inconsequente. Para mais informações, ver este post.

Capítulo 1: Prólogo

O sol já ia se pondo às costas da figura esguia. Sentada na borda da parede de pedra que se estendia acima da estrada, esperava pacientemente por algum movimento abaixo de seus pés que o fosse garantir o dinheiro do jantar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Eis a Companhia!

(Clique na imagem para ver em alta resolução)

   Acima, a única representação gráfica dos membros da Companhia Inconsequente. Uma prova da nossa existência no Plano Material (e de futuros problemas psiquiátricos com o consumo de álcool).

   *Observação 1: Amakiir, o Elfo Bardo, atualmente está lutando ao lado de seus compatriotas na Floresta Negra, e por isso não apareceu ainda nas Crônicas.

   **Observação 2: Sim, Aleena é um cara. O que vocês esperavam? É uma roda típica de Dungeons & Dragons.

Com garbo e elegância,
O Mestre 

Uma nova saga: O Abraço das Sombras

Olá, aventureiros!

   Se tem uma coisa que me deixa feliz, certamente é a participação ativa dos meus jogadores na construção de backgrounds ricos para seus personagens e para o cenário de campanha. Assim, é com muito orgulho que anuncio uma nova saga sendo publicada aqui no blog da Companhia: O Abraço das Sombras.

videogamegeek.com
 
 Essa saga explora o passado sofrido de um dos personagens da Companhia: o ladino tiefling chamado Drake Krowsey. A saga é escrita por ninguém menos que seu próprio jogador (aparecendo aqui na alcunha de O Ladino), que mistura seu background original com elementos do mundo descritos por mim. A história é um drama sobre sobrevivência e vingança, e tem um tom bem mais escuro do que as Crônicas da Companhia.
   É importante estabelecer que O Ladino tomou licença poética para escrever várias partes da história, ou seja, haverão inconsistências em relação às Crônicas (adicionando mais confusão ao que já lidamos ao comparar a história original, nas sessões, e ao adaptado aqui no blog). Portanto, marcarei os post da saga com a tag "Abraço das Sombras" para que todos saibam diferenciar as duas sagas propriamente.
   Os posts da nova saga serão publicadas no blog pessoal d'O Ladino (postaremos o link aqui assim que tudo estiver arrumado), e serão repostados aqui como um post extra de sexta-feira (para a alegria de nossos ávidos e exigentes leitores, Sven e Thomas).
   Esperamos que vocês aproveitem, de todo o coração!

O Mestre & O Ladino

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Interlúdio - Os Tieflings

   Drake sentou-se à mesa. Boobeedabeetz serviu chá para ambos (sua caneca era do tamanho de um balde comum).
   - Quanto essa informação vai me custar? - indagou Drake.
   - Deixe-me ver... vou contá-lo tudo o que eu sei, e aviso-lhe, não sou especialista... e vou permitir que me peça detalhes livremente, então... sessenta Coroas.
   Drake fez uma careta. Abriu sua bolsa, tristemente magra, e contou as moedas no valor requisitado. Empilhou-as sobre a mesa.
   Boobeedabeetz fez um sinal de aprovação, pigarreou e começou a falar.
   - Tudo começa a muito, muito tempo atrás. Antes do surgimento de Garmun, antes dos homens deixarem de ser tribos esparsas pela terra, antes das Guerras Dracônicas. Eras em que nem mesmo elfos e anões tinham chegado ao Plano Material.
   "Nesse tempo, um grande mal se fez presente neste plano. Seu objetivo era governar esse mundo de forma tirânica, dominando todas as fracas criaturas que aqui se encontravam. Os habitantes deste plano ainda não dominavam as artes arcanas, e mesmo a influência dos deuses era pouca naquele tempo. Graças a essa entidade, no entanto, um canal foi criado no Mar Astral, tornando o acesso ao Plano Material muito mais fácil que jamais fora. E então, logo após a sua chegada, vieram aqueles que sempre seguem as grandes calamidades: os habitantes dos Planos Inferiores. Seres de grande maldade e fome, adoradores dos desejos e pecados, agentes da corrupção e da desgraça. Embora venham de muitas origens e possuam muitas formas, os homens costumam chamá-los de Diabos e Demônios."
   Krake ouvia atentamente, pendurando-se em cada palavra. Boobeedabeetz tomou um gole de chá e continuou, em sua voz grave e tranquila.
   "Embora os homens não sejam necessariamente cruéis em sua natureza, uma coisa que não se pode subestimar é sua ambição. Não sei como surgiu o primeiro pacto entre homens e Inferiores, mas posso imaginar. Um caçador que desejava conquistar a donzela mais bela de sua aldeia. Um senhor-da-guerra que buscava subjugar seus inimigos. Um velho que buscava o vigor da juventude... todas possíveis, todas prováveis."

Fonte: www.goodwp.com

Capítulo 6 - Antiguidades e Ferramentas Arcanas de Boobeedabeetz

   Naquela noite, Aleena dormiu muito mal.
   Seu sono foi tomado por sonhos desconexos e incompletos, muitos deles recortes de sua infância. Em vários deles ela se lembrava do dia mais negro de sua juventude: seu pai retornava dos saques, embriagado e furioso, e dizia que sua mãe estava morta e que ela devia ir embora para Dartistaed. Ela chorava e esperneava, e o bebê que seu pai trouxera fazia coro com ela; mas o homem gritava ainda mais alto, ordenando que juntasse seus pertences. Aleena acordou várias vezes durante a madrugada, suando frio.
   
Fonte: sandyquill.com


   O grupo foi acordado com o cheiro delicioso de pão quente. Darsh, Drake e Tom dividiam um quarto andar superior da casa; ao seu lado, Aleena ganhara um pequeno quarto individual. Sven dormia no porão, num compartimento ao lado do de seu amigo Thudar.
   O grupo tomou seu desjejum na companhia do anão paladino. Pão molhado no mel, ovos, linguiças e cerveja foram servidos à vontade.
   - Vamos ficar gordos e mal acostumados assim! - riu Darsh, estalando os lábios - E então, companheiros, o que temos para hoje?
   - Temos que arrumar alguém para vendermos toda a tralha que acumulamos nas viagens - disse Sven, bocejando.
   - A "tralha" - respondeu Darsh - são armas encantadas que valem, na pior das hipóteses, várias centenas de Coroas de Ouro. Não vamos conseguir vendê-las a um fabricante de ferraduras. Será que o Duque tem um mago da corte? Isso é comum em Nahros.
   - Ele tem uma conselheiro especialista em assuntos arcanos, sim, - disse Thudar, com a boca cheia de pão - mas existe uma alternativa melhor. Temos um mercador especialista em itens encantados, aqui na cidade. Ele tem ma loja fixa na Rua Thall, no Distrito da Prata.
   - Que sorte! Vamos lá, então!
   - Esperem. - cortou Sven - Prometi a Thudar que iria conduzir o Rito das Chamas Novas, e pretendo fazê-lo agora pela manhã.
   - Rito do quê? - interessou-se Tom, lambendo os dedos lambuzados de mel.
   - Chamas Novas. - repetiu Sven - É uma bênção à forja da casa de um fiel de Moradin. Todos devem assistir.
   - Por quê? O que eu tenho a ver com a sua fé? - disse Drake.
   - De fato, anão. Boa sorte no ritual, mas nós temos que...
   - Todos assistirão! - disse Sven, vermelho - Estamos sendo hospedados pela boa vontade de Thudar, mostrem um pouco de gratidão e respeito com a fé do seu anfitrião!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Interlúdio - O Fim de Aryana


   O vento frio que entrava pelas portas dos fundo da casa fazia com que as chamas bruxuleassem na lareira e nas velas, deixando o rosto marcado de Xhu Sie ainda mais tenebroso, uma verdadeira máscara de sombras e cicatrizes.

   A senhora pigarreou um pouco e começou a falar. Apesar das palavras firmes, sua voz era arranhada e rouca, como se ela não falasse há muito tempo.




Fonte: www.my-favorite-camping-store.com





   "Como você pode notar por meu nome e meu sotaque, eu não nasci aqui neste lugar. Nasci longe, muito longe, a Leste, há vários anos, num lugar que em minha língua chamamos de Ilha dos Muitos Templos. Eu nasci parte de um clã orgulhoso de... espadachins, habilidosos e corteses, inigualáveis em luta e com coração de ouro."

   "Como se dizem ser os cavaleiros de Garmun." disse Aleena. Xhu Sie concordou com a cabeça.

   "De certa forma, sim. Mas diferente, muito diferente. Nosso estandarte era o  do Leão, e nós éramos a justiça, o braço forte do... imperador. Nenhum clã era mais importante do que o nosso, nenhum mais orgulhoso."

   "Não obstante, a ilha em que nasci era um reduto aos deuses e espíritos ancestrais de meu povo, e os guerreiros do Leão lá eram... guardiões, acho que a palavra é essa. Treinávamos e lutávamos como todos os Leões, mas raramente tínhamos um inimigo verdadeiro, pois apenas guardávamos o templo e a ilha. Eu era tola naquela época, guerreira. Era tola e impaciente, e daí vieram todos os meus erros."
    Ela parou por um instante, engolindo. Olhou para o nada por algum tempo e então retomou:
   "Eu sempre fui apta ao caminho da espada. Com quatorze anos, quase nenhum espadachim da ilha era capaz de me derrotar, salvo os mais antigos e experientes, e esses - com a sabedoria que a idade traz - nunca lutariam em desafio a uma criança. Portanto, eu era invicta, e assim, fiquei orgulhosa. E tola."

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Festas Dionisíacas

   

   Olá aventureiros!
   
   As postagens andam um pouco paradas, e eu vim aqui para afirmar que... vão continuar assim. Por um tempinho.
   Tenho tido bastante coisa para dar conta e, com a chegada a época do ano em que veneramos o antigo deus Dionísio com festas regadas a vinho e luxúria, também conhecido como "Carnaval", estou tirando o feriado para tirar o atraso do blog. Não teremos posts novos por um tempinho, mas voltamos com força total no dia 12/02 (sexta-feira), e a partir daí tentarei manter o ritmo de postagens toda segunda, quarta e sexta-feira.

   Agradeço a paciência de todos e boa sorte nos testes de Carisma nesse feriado!

Em ritmo de festa,
O Mestre 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Capítulo 5 - Carne, Cerveja e Memórias

Fonte: en.wikipedia.org

   Sven pisoteou o chão de pedras calçadas com raiva enquanto saía da Fortaleza de Sidar. Estava nervoso: com Drake, por sua servilidade, com Aleena, por sua apatia, com o maldito Duque, com sua ingratidão. Sven estava nervoso com os homens.
   Resmungando para si mesmo, Sven não percebeu enquanto ia de encontro com um outro anão que vinha entrando na Fortaleza.
   - Opa! Calma, irmão! - disse o anão moreno na língua de seu povo, segurando-o pelos ombros. Ele então arregalou os olhos e deixou o queixo cair - Pelas bolas peludas de Moradin, é você, Sven?
   Sven encarou o recém-chegado e, sem que pudesse evitar, um sorriso se espalhou em seu rosto.
   - Thudar? É você, sua bunda de bode?
   Os amigos se abraçaram efusivamente, rindo. Dûr Thudar tinha sido um acólito alguns anos mais velho que Sven, quando este treinara para ser um clérigo de Moradin; Thudar se graduara mais cedo que ele, se tornando um paladino do deus anão.
   - Como você está diferente! - disse o paladino. Portava uma armadura pesada completa, ao estilo anão; os membros de sua ordem quase nunca andavam sem o traje de guerra. Um pesado martelo-de-guerra pendia de seu cinto. - Está magro! E careca! E te faltam dois dentes, está ainda mais feio que antes, se é que é possível.
   - E você não mudou nada, seu tratante! Achei que estaria em alguma santa cruzada, lutando pelo Forjador de Almas, mas está em uma cidade humana se empanturrando de carne e cerveja, não é?
   Pela primeira vez, Thudar pareceu um pouco sem jeito. Coçou a barba negra trançada.
   - Aconteceram muitas coisas, Sven... tenho tanto a lhe contar.
   - E eu, meu amigo. Venha! Preciso tomar algo forte. Existe algum templo ao Pai nesse rochedo sujo de merda de gaivota?

domingo, 31 de janeiro de 2016

Sven e a Velha Estalajadeira

   

Olá, aventureiros!

   Quando estou escrevendo as crônicas da companhia, uma das coisas mais difíceis de se adaptar, sem dúvida, é o número insano de piadas que são ditas durante as sessões. Muitas das vezes, são essas piadas que fazem as seções memoráveis, e também que criam a necessidade de longas pausas para descansarmos os músculos das bochechas (os alteregos de Sven e Thomas que o digam - não é sem motivo que eu vejo ambos se tornando os "alívios cômicos" da Companhia aqui no blog).

   No entanto, existem uma infinidade de piadas e situações que não podem ser transcritas aqui no blog, por n razões. A maioria é fora de contexto demais, envolvendo metajogo (piadas com elementos do mundo real, inexistentes no contexto do jogo); existem aquelas bobas demais (estou olhando pra você, Aleena) e existem algumas, ótimas, que infelizmente ficam de fora por saírem demais do tom que estou tentando passar num determinado capítulo.

   Um exemplo de situação cômica que acabou ficando de fora foi o que aconteceu com Sven depois que ele saiu da taverna (lá no Capítulo 2). Sven estava em um período de autoflagelação, e ficou bem irritado com os seus companheiros por os darem bebida, enganado. Chegou então a uma hospedaria lotada ("A Âncora Enferrujada") e deu de cara com a estalajadeira, uma velhota encarquilhada.
   "Gostaria de um quarto individual, senhora estalajadeira" disse Sven.
   "Claro, mestre anão! No sótão, temos um quarto sobrando." sorriu a velhota. "Estamos servindo um belo caldo de peixe hoje, nossa espcialidade."
   Se sentindo recluso, Sven disse:
   "Gostaria que fosse servido no meu quarto, se não houver problema."
   Decidi que, apesar do movimento de clientes, a velha se permitiu uma gentileza:
   "Claro, mestre anão, claro. Algo mais?"
   "Sim" continuou Sven, pensando em sua autopunição por desobedecer a própria promessa de não beber álcool "Gostaria de uma vela, uma faca e um pedaço de corda, se for possível."
   Achei estranho e imaginei a resposta da velha, mas Sven estava tão imerso em sua interpretação que decidi ver aonde ia essa loucura.
   "Er, sim, senhor. Posso providenciar."
   "Gostaria disso tudo em pelo menos um minuto, lá em cima, tudo bem?"
   Foi aí que decidi que Sven tinha ido longe demais. Usando minha melhor voz de Monty Python imitando uma mulher, pus-me a gritar, reclamando:
   "Ah, só isso? Em menos de um minuto? A hospedaria está cheia de gente, e você quer comida no quarto e um monte de bugigangas malucas! Sou só eu e meu neto cuidando desse lugar, moço! Que mais vai querer agora, um botão de camisa, três bigodes de rato e o meu sutiã? Você tá achando que é quem, o Bruce Springsteen?"
   
   As gargalhadas foram tantas que gastamos quinze minutos antes de conseguirmos voltar ao jogo.

   E não, Aleena, responder "Baixo!" quando algum guarda fala "Alto!" não é uma boa piada e não vai parar nas crônicas.

O Mestre

Capítulo 4 - Duque Artim Daven III

Fonte: museicivicifiorentini.comune.fi.it

   A sala de audiências do Duque não era menos impressionante do que o resto do castelo. Retangular, o piso formava uma escadaria de degraus rasos e que deixava o cadeirão decorado de madeira do Duque ligeiramente acima dos peticionários. As paredes atrás da cadeira possuíam janelas muito altas, ladeadas por flâmulas com o brasão dos Daven. As paredes laterais eram ocupadas por algumas estantes de livros e armários, e também existia uma segunda porta que dava acesso à sala, menor e mais discreta do que aquela pela qual o trio entrara.
   Contaram seis guardas: quatro ladeando a porta de entrada, próximos ao grupo, e mais dois na outra porta. Um deles anunciou, batendo a alabarda no chão:
   - Duque Artim Daven III, Senhor de Mohrstarr e do Ducado de Daven!
   O Duque estava sentado em sua cadeira, com uma expressão impassiva. Era jovem, não muito mais que trinta anos; tinha cabelos loiros cortados curtos, assim como uma barba escanhoada. Era um homem atlético, e tinha um semblante que expirava controle e confiança. Encostada à sua direita estava uma espada decorada, dentro da bainha; à sua esquerda ficava uma pequena mesa em que repousavam uma jarra e um cálice de prata.
   Sem saber direito como se comportar, Drake abaixou-se numa reverência. Aleena fez uma meia-mesura, contida; Sven encarava o Duque abertamente. Por fim, o Duque anunciou:
   - Saudações. Quem são vocês e o que vêm pedir de mim?
   - Somos membros da Companhia Inconsequente e trazemos algo que pertence ao senhor, senhor Duque - Drake adiantou-se. Estava nervoso e suava frio. Aleena deu um passo à frente e, lentamente, desembrulhou o fardo que trazia, revelando a espada dourada. A expressão do Duque congelou.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Capítulo 3 - A Fortaleza de Sidar

   Com um jato de água fria, Thomas acordou, tossindo e cuspindo. Se viu no chão d´O Leviatã; uma jovem rechonchuda de cabelos cor-de-mel o encarava, com um balde vazio nas mãos.
   - Desculpe, senhor, - gaguejou a menina - mas estamos fechando.
   Tom se sentou. Tinha um gosto metálico horrível na boca, e sentia um cheiro asqueroso. Piscou várias vezes e lavou os olhos com a água que escorria de sua cabeça. Por fim, levantou-se, gemendo horrivelmente no processo. A menina se prontificou para ajudar:
   - Aqui, vovô, se apoie em mim...
   - Por que todo mundo me chama de "velho" ou "vovô"?  Sombras e espectros, eu tenho só cinquenta anos!
   - Desculpe, senhor, não quis insultá-lo...
   - Tudo bem. Ai! - apalpou o nariz, e se arrependeu; a ponte doía muito ao toque - Está quebrado, não está?
   A menina fez que sim com a cabeça. Pela sua expressão, Tom imaginou que não estava nada bonito.
   - Tudo bem, menina... quanto eu devo o seu patrão?
   - Nada, senhor - respondeu o taverneiro desdentado, aparecendo com olhos fundos e um sorriso cansado - Sua amiga ruiva pagou sua conta. Deu um belo espetáculo, aquela lá.
   - O que... o que aconteceu? Eu me lembro de tão pouco... - sua cabeça doía; mais uma fonte de dor para sua coleção.
   - Bom... - o taverneiro coçou o queixo - deixe-me ver... depois que aqueles marinheiros de Nahros bateram em você, ela apareceu do nada e acabou com eles. Quebrou um braço e vários dentes, ela. É difícil ver uma mulher que luta daquele jeito. Espantoso.
   Tom engoliu em seco. A cena era perfeitamente plausível em sua cabeça.
   - Então todo mundo começou a ovacioná-la e comprar cervejas pra ela... e ela disse que quem tocasse em você ia perder as duas mãos e o... enfim, foi uma bela ameaça. Ninguém tocou em você a noite toda, mas ela esqueceu de te levar. Estava bem bêbada. Todos estão sempre, aqui. Mas agora tenho que fechar, então... por gentileza, já que estamos quites, eu tenho que limpar o local.
   - Pois não... mil perdões pelo incidente, senhor taverneiro.
   - Eu tenho uma taverna de marinheiros no maior porto do norte. - respondeu o homem, sorrindo - Qualquer dia em que ninguém se espanca é um dia estranho.
   Thomas agradeceu mais uma vez e saiu pela porta de entrada. A luz do sol nascente feriu seus olhos, e ele xingou em fenardien enquanto protegia o rosto. Tentou usar sua magia espiritual para consertar o estrago inchado que era seu nariz, mas falhou: talvez por ainda estar meio bêbado, ou talvez pela falta da costumeira comunhão espiritual que fazia todas as manhãs.